Introdução
Este trabalho
é fruto de um esforço, ao qual exigiu de mim muita dedicação. O objetivo
principal deste trabalho é mostrar um pouco como se deu a história de Santa
Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face.
Queremos
apresentar com essa nossa pequena pesquisa que, Poucos Santos tiveram na Igreja
do século XX a influência dessa jovem carmelita contemplativa, membro de um
Carmelo teresiano da França. Sua vida de Carmelo, no entanto, não foi causa de
impedimento de ser declarada padroeira das missões, porque soube conciliar a
espiritualidade e vida contemplativa a dimensão apostólica. Ao mesmo tempo
transmitiu sua vida e experiência do Evangelho numa linguagem simples e cheia
de vida, capaz de ser compreendida e assimilada pelos que acreditam, em todos
os povos e culturas.
Tentamos a
partir do contexto histórico em que viveu Santa Teresinha, apresentar alguns
pontos que julgamos entre os demais, também muito importantes, como por ex: as
filhas da família Martin, sua conversão a partir do pentecostes de 1883, seu
confronto com o Carmelo, uma consciência do amor, mostrar também como uma jovem
se debruça sobre a sua própria história, sua realidade espiritual e o ponto
chave da sua espiritualidade que é a pequena via.
Contudo, pude observar
que, a vida dessa jovem foi marcada fortemente pela presença de Deus. O
conhecimento que a tinha sobre as coisas e a vida manifesta com muita
naturalidade.
Percebemos em
seus escritos que a dimensão maior em suas palavras parte do amor a Cristo. No
decorrer deste trabalho me deparei com uma magnífica grandeza do edifício
espiritual do século XIX. Seu alicerce está cravado no amor, fixado
decisivamente em Jesus, pelo qual Deus quis manifestar-se a humanidade. “Jesus
sente prazer em mostrar-me o único caminho que leva para essa fornalha divina,
e esse caminho é a entrega da criancinha que adormece sem receio no colo do
pai... ‘Quem for criancinha venha cá’ disse o Espírito pela boca de Salomão, e
esse mesmo Espírito de amor disse também que ‘o Senhor a misericórdia é dada aos
pequenos’. Em nome dele, o Profeta Isaias revela que, no último dia: ‘o Senhor
levará a pastagem o seu rebanho, com o seu braço conserva-o reunido; traz no
seu regaço os cordeirinhos e tange cuidadosamente as ovelhas que aleitam! E
como se todas essas promessas não forcem suficientes, o mesmo profeta, cujo
olhar inspirado nas profundezas eternas, exclama em nome do Senhor: ‘como
alguém que é consolado pela própria mãe, assim eu vos consolarei, sereis
levados ao colo, e acariciados sobre os joelhos”(Devocionário de Santa
Teresinha, p.8).
Esses
escritos fornecem-nos a verdade a qual nós devemos-te-la como caminho que
ajudam a encontrar o Cristo.
O caminho que
Santa Teresinha percorreu, pequeno, porém, cheio de Deus nos faz um convite
que, nos enveredemos pelo mesmo. Sua infância e seus momentos marcantes
despertaram para uma conversão a partir do natal.
Assim sendo,
nossa vida de fé seja também fundamentada na espiritualidade própria de nosso
tempo com base e fundamento no Cristo ressuscitado.
SANTA TERESINHA DO MENINO
JESUS E DA SAGRADA FACE
1 - Contexto histórico
É, pois, um
desafio lançar-me na pesquisa de um trabalho tão minucioso com o intuito de ser
fiel no que me detém zelar pela minha alma e não ferir a dignidade das páginas
lidas sobre a pequena alma de tão grande luz para a espiritualidade do século
XIX e os que se seguem.
Esse século é marcado pelas grandes notícias, divulgadas
no tocante ao mundo científico, a começar com Darwin em 1859, “a origem das
espécies, seguido no mesmo ano de Marx, a crítica da economia política. Começa
a ser escavado o canal de Suez, que seria aberto em 1869. Em 1863, Renan
publica a sua vida de Jesus. O Syllabus data de 1864, o mesmo que guerra e paz
de Tolstoi. Foi em 1865 que Claudio Bernard publicou a sua introdução ao estudo
da medicina experimental. O primeiro Concílio que começou em 1869. Depois da
guerra de 1870, fundava-se o império alemão e as primeiras manifestações do
Kulturkampf, são de 1872” (Teresa de Lisieux, p. 7).
No ambiente que fervilhava tantas novidades para a época,
se encontra o casal Martins, o senhor Luiz Martin e a Senhora Zélia Martin, que
por vocação já tinham em si uma experiência de fé muito forte. Ambos já tinham participado
de uma experiência vocacional cuja haviam deixado. Promovera entre os dois um
encontro providencial, que marcara toda a vida. A espiritualidade presente no
casal era de causar admiração, mesmo os dias iniciais após o matrimônio não
foram necessários para quebrar essa realidade. “Foi necessária a intervenção de
um confessor para persuadir Zélia Martin a ter filhos e, assim, preparar almas
para o céu” (Idem, p. 5).
O casal Luiz e Zélia foi muito feliz, sem demonstrar
muita alegria. Luiz nunca deixou demonstrar felicidade, muito atento a seu trabalho
como relojoeiro, isso propiciaria um maior contato com o silêncio de que lhe
era muito atento.
Zélia afirma ter possuído uma infância de rigorosidade
por parte de seus pais que sempre a tratou com dureza, personalidade própria de
sua família. Em sua esperada morte escreve ela a seu irmão para manifestar seus
sentimentos.
É forçoso renunciar a tudo! Eu nunca tive
prazer algum na minha vida. “É coisa certa, que a experiência comprova que a
felicidade não existe neste mundo. Não, a felicidade não se pode encontrar cá
embaixo e é mau sinal quando tudo prospera. Deus assim o quis em sua sabedoria,
para nos recordar que a terra não é a nossa verdadeira pátria” (Idem, p. 6).
O casal participa da
espiritualidade vigente da Igreja Católica presente na sua época. A
espiritualidade destacava o momento presente da história e da vida das pessoas
como algo “penoso”, mas deveria ser atravessada para se alcançar uma eternidade
feliz. Ao que lhes era próprio é ver a felicidade e a prosperidade aqui na
terra como contrária à realidade do céu.
Viveram em meio à realidade prospera na família Martin,
sobre tudo Zélia. A cidade de Alenço na França é considerada o centro da
indústria de “confecção”. Aos 22 aos, Zélia era aluna do curso de renda e por
sua própria conta estabelece seu comercio aos cinco anos do casamento.
Capitulo I
1 – A Prática religiosa da família Martin
1.1 As filhas Martins
Toda família Martin segue preceitos religiosos, de
tradição católica. Na época existiam na França muitas pessoas que declaravam
deístas e quantas politicamente republicanas – culturalmente tinham os costumes
e a vivência católica. Existia para todas as classes uma educação religiosa à
maneira de preparar os jovens para a vida. As meninas tinham uma preparação
para serem mãe e governantas do lar, favorecendo ao ambiente familiar uma
integridade permanente e ao esposo o descanso do seu trabalho.
A Senhora Zélia Martin, tem uma preocupação quanto à
educação das filhas, no tocante a vida religiosa e a fé que deve ser transmitida.
No mundo familiar de Lisieux, era importante manter esta educação a partir de
princípios. Dositéia era uma irmã religiosa, irmã da Zélia Martin, a quem ela
sempre recorria a buscar conselhos para aplicar a suas filhas. O problema é que
a irmã religiosa não tinha muito conhecimento da problemática do mundo, para
transmitir opiniões familiares e acabava por aplicar rigorosos conselhos ao
caminho educacional das sobrinhas. Os duros conselhos dados a Sra. Martin
levara-a castigar suas filhas da seguinte forma:
“(...) a senhora Martin sugere às filhas que
façam pequenos “sacrifícios” e os contabilizem desfiando pérolas: é o “terço
das práticas” – qualquer esforço que uma menina aja feito chama-se uma
“prática”. E inculte-se-lhe que, com isso, ela progredirá na santidade,
acrescentando pérolas a pérolas em sua “coroa” (Idem, p. 11).
É nessa
família que nasce em 2 de janeiro de 1873, Maria Francisca Teresa Martin, hoje
tão venerada Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face. A primogênita
da família tinha doze anos e contava com um grande afeto do seu pai, o Senhor
Luiz Martin. O nascimento de Teresa provocava em Maria sua irmã, vários
momentos de crises e ciúmes. “Para mim, diz ela, acusar-me é uma necessidade”.
A Senhora
Zélia Martin, tem muita atenção a sua segunda filha Paulina, na qual reconhece
sua própria fisionomia, seu “rosto”. A terceira filha do casal se diferencia na
cor da pele e dos olhos. Não tem sua cor escura quanto às duas anteriores
tinham. Leônia era seu nome e não contava com a beleza de suas irmãs. As
diferencias fizeram com que se criasse entre ela e a mãe um “clima de
antipatia”. Para Zélia, sua filha Leônia não lhe trará tanta alegria. Leônia não goza de perfeita saúde. É notável
o caráter da menina, não são os castigos de sua mãe que a faz mudar em sua
natureza.
Quando Teresa
nasce, sua irmã Celina já estava com seus quatro anos de idade, com uma vida
invejável, logo Teresa atem como amiga “inseparável”. No ano de 1870, no mês de
outubro nasce na família Martin uma menina que lhe é colocado o nome de Teresa,
vindo a falecer em sua mais pequenina idade, apenas “seis semanas” de vida. Sua
mãe já tocada pela doença que levaria a morte sentia o desejo de um filho para
fazer companhia para suas irmãs. Um desafio que lhe parecia difícil, 1872,
quando fortemente sofria pala a doença e morte da sua pequena Teresa. Como tudo
é preparado por Deus, em 1873 na de Alençon em dois de janeiro, nasce para o
mundo de fé, Teresa a segunda do casal, “uma esperança” é aflorada no coração
da família. A criança que acabara de nascer também goza de uma fragilidade
parecida com a primeira Teresa.
Confia-se então Teresa a uma ama-de-leite, chamada Rose
Taillé e que todos chamam de “Rasinha”; a ama, que tem quatro filhos, dos quais
o ultimo tem um ano habita semallé, a 8 km de Alençon, no sitiozinho com uma só
vaca. Eis, pois Teresa fora da casa
paterna, apenas com seis semanas de vida, nas mãos duma ama-de-leite; e sem
demora, ela recupera as forças, engorda, dá mostras duma saúde maravilhosa
(idem, p.13).
Em vida, já
próxima da sua morte, a Sra. Martin faz um pedido ao Sor. Luiz de que com sua
passagem ele vá com suas filhas morar em Lisieux, deixando a cidade de Alençon,
pois aí mora seu irmão Izidório Guérin. A promessa feita à Senhora Martin se
realiza a 15 de novembro de 1877, pouco tempo depois da sua morte, em 27 de
agosto. No dia 26 a cerimônia de unção dos enfermos deixa a pequena Teresa
bastante impressionada.
Com a morte
de sua mãe, a menina Teresa passa por algumas dificuldades, também devido à
mudança de sua cidade natal. Não lhe era agradável a presença de pessoas
estranhas, tem tendência ao isolamento. O primeiro contato de Teresa com o mundo
externo foi o colégio “semi-interno”, que a fez sofre mais ainda. Sua irmã
Paulina a quem lhe abraçara como mãe é quem consegue acalmá-la. A mesma Paulina
também a leva a um grande “choque comparado com a morte de sua mãe”, quando
revela o desejo de ingressar na ordem religiosa. A surpresa lhe crava o
coração. Após sua irmã Paulina explicar o Carmelo, Teresa entende como um
“deserto” que Deus preparou para “esconder” sua Paulina. No obstante o tempo
passa e, contudo Paulina se torna de minuta em sua presença, só por ocasião das
visitas que eram feitas a cada quinta feira. Teresa procura chamar atenção, mas
nem isso é suficiente.
1.2 O Pentecoste de 1883
A vida de Teresa começa a mudar a partir do dia 13 de Maio de
1883, quando ela percebe um fato importante, um silêncio profundo a faz se
aproximar de Nossa Senhora.
“Maria sairá ao jardim, deixando-me com Leônia, que lia
junto á janela: após alguns minutos, eu comecei a chamar quase baixinho: Mamãe,
mamãe”. Maria volta para junto dela e põe-se a rezar em voz alta a Nossa
Senhora, cuja estátua junto da cama. “De repente conta Teresa, N. Sra. Pareceu-me
linda, tão linda que eu nunca vi nada tão lindo, o seu rosto respirava uma
bondade e uma ternura inefáveis, mas o que me penetrou até o fundo da alma foi
o “sorriso encantador de N. Sra.’’.
Então, todos os meus pesares desvaneceram-se, duas grosas lágrimas jorraram de
minhas pálpebras e me escorreram silenciosas pelas faces, mas eram lágrimas
duma alegria sem mescla... Ah! Pensava eu, N. Sra. Me sorria, como sou feliz...
mas eu nunca o contarei a ninguém, porque então a minha felicidade
desapareceria”. Desta sorte, N. Sra. Tornou-se a terceira mãe de Teresa, mas,
com esta última, ela tinha a certeza de sempre poder contar (idem, p.190).
Esse
acontecimento marcara a vida da adolescente, que passara a interrogar-se sobre
tal acontecimento. Ainda se entrega ao sentimento materno de sua tia e não
encontrando nenhuma resposta se decepciona algo que também acontece com o
desprezo de suas amigas.
Pelo
visto que se conta a vida infanto-juvenil de Tereza não foi de tantas alegrias,
mas de contínuas dificuldades a partir da morte de sua mãe. Sua conversão com o
natal de 1886 mudara sua vida. “Conforme diria: ela tornara a encontrar “a
força da alma que possuía aos quatro anos e meio”; tornou-se uma lutadora; sete
semanas antes de morrer, exclamará: “Eu já disse, hei de morrer com as armas
nas mãos” (Idem, p. 22).
Pelo
que consta na história de Santa Terezinha do Menino Jesus, seu “caminho da
infância espiritual” foi de grandes provações, pouco ou raramente se encontra
espaço de felicidade no caminho da pequena de Lisieux. Para ela a infância é um
caminho que marca “determinada fase da vida”. A infância deve ser separada pela
força da esperança que põe fim ao passado de idade pequena e projeta o futuro.
Trata-se de uma verdadeira conversão: o Deus que lhe haviam
apresentado como um ser de morte, que esperava dos seus a rejeição do mundo, a
obediência cega e resignação, torna-se a seus olhos o que na verdade é: um Ser
de libertação e de vida, um Ser que nos faz das nossas rodeiras, das nossas
repetições, das nossas alienações: “Deus, soubera fazer-me sair do circulo
mesquinho do que eu girava sem saber como sair” (Idem, p. 22).
Até
o natal de 1886, Tereza era uma menina que não tinha um ideal definido, tudo
passava pelo crivo da incerteza, desolação. Ao completar os catorze anos em 2
de janeiro de 1887, ela faz como que um regresso ao natal de 1886. As palavras
da Senhora Martin, a fizera refletir e encontrar no próprio impacto uma solução
para desfazer uma realidade de imperfeições que lhe fazia criança.
De sorte que, a conversão decisiva de 1886 nada tem duma
iluminação interpretativa, nada duma exaltação desapropriada. É a descoberta de
Deus tal como Ele é: o Deus da vida. O resto da existência de Tereza – pouco
mais de dez anos – seria a realização sucessiva e a confirmação pelos atos do
que do que lhe aconteceu na natal de 1886 (Idem, p. 22).
Tudo
na vida da pequena Teresa se torna mais claro quando ela decide por si mesma
tomar um rumo diferente. A fase de criança é interrompida com uma só noite,
natal de 1886.
Capitulo – II
2 – Teresa e sua
conversão, pentecostes de 1887
2.1 Tereza e o Carmelo
Pentecostes
é o advento que prepara toda a vida de Tereza, sua conversão, o reconhecimento
de Deus como Senhor do mundo e da história, o Deus da vida, da libertação, da
existência do ser em si mesmo. Assim sendo, é no Pentecostes de 1887, que
também passado a “sua conversão”, comunica ao pai seu desejo pela vida
carmelitana. Sua irmã Paulina a quem a tem por sua segunda mãe já se encontra
no Carmelo. Mas a jovem Tereza já goza de maturidade suficiente e esclarece; “o
cordão umbilical com Paulina estava radicalmente cortado”. Para ela o Carmelo a
tornaria “conhecida a ternura de Deus”, sobretudo para aqueles que marcados
pelo sistema não tinham dentre os homens uma especial seguridade de valores, de
dignidade. Tereza deseja como religiosa rezar pelos que evangelizam e o maior
desejo é “ser apóstola dos apóstolos”.
Sua
decisão para entrar no Carmelo aos catorze anos foi como que um choque para
toda cidadezinha de Lisieux.
O vigário da paróquia Sant-Jacques, superior canônico do
Carmelo, nem se quer aceitava ouvir falar em tamanha loucura; tão pouco o tio
Guérin. O senhor Martin tentou convencê-los, mas em vão. Então o senhor Martin
impetrou uma audiência do bispo de Bayeux; lá foi ter a trinta de um de Outubro
acompanhado de Tereza, sem ter antes declarado o objeto desta visita. Mons.
Hugarin o remete ao vigário de Sant-Jacques; simplesmente falaria dela a este
última (Idem, p. 26).
O
pai de Teresa, o Sr. Martin, que tanto gostava de fazer viagem “peregrinações”,
em suas apaixonantes andanças prepara o terreno para chegar ao último ponto da
viagem com relação ao desejo da filha, levando-a a Roma. A viagem proporciona a
menina Teresa um encontro pessoal o sumo pontífice e trata do assunto do
Carmelo, ou seja, Teresa nesse encontro fala diretamente ao Papa da sua
desejosa vontade de entrar no Carmelo.
A
viagem feita a Roma, Teresa tem a sorte de dá passo significativo na sua vocação.
Com a autorização do papa, para entrar no Carmelo, ela se sente mais animada de
fé e esperança. O que mais chama atenção de Teresa com essa viagem foi vontade
de rezar insistentemente pelos padres e de modo particular pelo próprio clero a
que ela pensava ser mais santo.
“Na
audiência do Papa, a 20 de novembro de 1887, Teresa fez o seu pedido. Disto
muito se falou entre os peregrinos e até no jornal de Luíz Veuilot, I’univer.
Lisieux em peso não demorou muito em comentá-lo” (idem, p.26).
Sua
entrada no Carmelo dependia do Mons. Hugonin, que ficara de dá a resposta para
seu ingresso. Teres se submete “a uma longa espera, ela que pensava na data do aniversário
de sua conversão, natal de 1887, sua resposta só chegou 4 de abril depois, aos
“28 de dezembro”. O bispo endereça sua carta resposta a priora confirmando sua
aprovação. Quando chegou a si mesma a notícia da resposta pela Madre Maria de
Gonzaga a primeiro de Janeiro, Teresa já se prepara para celebrar seus quinze
anos de vida.
A
jovem Teresa viu as portas do Carmelo se abrirem para sua plena felicidade em 9
de abril de 1888.
2.2 Uma ciência do Amor
Teresinha
se volta para o amor de quem sabe falar bem e, sobretudo viver. Todo o início
da sua história foi voltado para uma pergunta de muita fragilidade, de caráter
sensível. Teresa descobre a fonte do amor e mergulha nessa fonte inesgotável
que a faz cada vez mais entregar-se. Para ela o amor é “sem publicidade”, mas
com “intensidade”. Para ela o Carmelo se faz como uma batalha que tem que ser
vencida. O amor é o elemento essencial que garante a força necessária no
caminho.
Quem ama experimenta uma explosão interior na qual nada
mais conta força o objeto amado; conforme diz Francisco de Sales, que Teresa
cita, “quando o fogo do amor arde dentro dum coração, todos os móveis voam
pelas janelas”. O amor esvazia a casa para Jesus (idem, p.36).
Teresa
encara essa realidade de amor com tanta segurança e, esperança através do
silêncio que é possível amar sem que seja visivelmente provocador em sentido
externo. Jesus é para a jovem Teresa, esse amor vivíssimo que confirma todo seu
sentimento de “bem-amado”.
A
felicidade humana é por Teresa acolhida, a vida é dom de Deus, com suas
palavras “a vida é um tesouro, cada instante é uma eternidade”. Para Teresa
nesta vida há de se encontrar noites que serão sempre noites e noites que logo
trará o clarão da aurora.
Ela
não acredita num amor que se manifesta pelo sacrifício, mas pela doação de si
mesmo. Teresa não ousa muito falar da face de Cristo que sofre o caminho do
golgata para não mostrar “uma espiritualidade de sangue e morte”, o que importa
para ela é um Jesus que vive as alegrias da páscoa.
A
espiritualidade de Teresa é uma espiritualidade da vida. O Evangelho não faz
convite negativo de um “sacrificar-se a si mesma”, o convite do Evangelho é a
vida feliz, do amor que desmistifica o conceito de “sacrifício”.
O
Carmelo de Lisieux, período ao qual viveu Santa Teresa não escondia a dura fase
da espiritualidade de sacrifício. As prioras que presidiram o Comando do
referido Carmelo não eram distante dessa realidade.
É mister insistir neste ponto, pois a própria foi vítima da
falsa espiritualidade do século XIX, vítima entre as mãos de Madre Maria de
Gonzaga e Madre Inês de Jesus (sua irmã Paulina). Estas, sobretudo a segunda,
traficaram com os manuscritos de Teresa, no sentido desta falsa
espiritualidade. Com a morte de uma jovem de vinte e quatro anos, quiseram-nos
demonstrar que quando uma pessoa morre moça, é prova de que Deus a ama, o que
é, para a fé cristã, uma blasfêmia, pura e simplesmente – teria Deus podido,
como um tirano perverso, querer e exigir a morte injusta de seu Filho (idem, p.41).
No Carmelo de Lisieux
vivia uma jovem que entendia a espiritualidade nas pequenas coisas e não
através do sacrifício. Para ela a espiritualidade é vista, praticada nas coisas
do dia-a-dia da pessoa. Nas coisas comuns que só se consegue ver através da
ótica do amor. As coisas extraordinárias, as ações um tanto difíceis não
manifestam verdadeiramente o amor. Teresa se apóia em Teresa de Ávila que diz:
“Jesus não considera tanto a grandeza das ações, nem mesmo a sua dificuldade,
quando o amor que impele a esses atos”.
Capitulo –
III
3 - No Carmelo, uma noite
de recreio das irmãs Martin
3.1 Uma jovem se
debruça sobre o seu passado
Aqui
começa para Teresa uma extraordinária e significativa missão, de na verdade
escrever para a família e o mundo uma rica história de amor no quadro da
família Martin. As quatro irmãs que se encontram no Carmelo de Lisieux, durante
um recreio de uma bela noite dão-se conta de a partir da boa memória de Teresa
evocar alguns acontecimentos marcantes de sua infância. É Teresa mesma quem tem
a iniciativa.
De
fato, Teresa quer contar sua história vocacional, mas o que realmente ela faz é
um passeio por toda sua infância, contando os acontecimentos tanto seus como de
todos os momentos vividos entre todos da sua família, com seus feitos e
desfeitos. Para ela, Deus fez grandes coisas em sua pequena infância de que lhe
recordara claramente.
A minha vida toda, Deus agradou-se em me cercar de amor.
Minhas primeiras lembranças são impregnadas de sorrisos e das mais ternas
caricias... mas, assim como perto de mim colocara muito amor, colocou também no
meu coraçãozinho criando-o amoroso e sensível, também amava muito papai e mamãe
e exprimia lhes minha ternura de mil maneira, pois eu era expressiva (Hist de
uma alma, 14).
O
que interessa para Teresa não é exaltar sua família, o importante é mostrar
como Deus ágil na família que não é melhor do que outra, apenas foi à
escolhida, fora de quaisquer méritos.
Teresa
mostrará nesta narração um fato próprio e claramente simples de tal realidade.
“É um itinerário espiritual que quer traçar”, evidentemente a experiência que
marcará sua vida de infância, bem como alguns momentos importantes, que considera
de graças, o amor que a envolveu com o Senhor.
Santa
Teresinha é de uma memória muito “preciosa” e tem uma facilidade estupenda
quanto à narrativa. Ela encara o pedido da madre Paulina a que tem grande
admiração e começa a escrever seriamente todas as noites pelo menos uma “página
por dia”.
Ela
transmite sua espiritualidade através de seus escritos. A mensagem que é
importantíssima para leva sua forma de se expressar frente à realidade do
século XIX, mexe por assim dizer nas estruturas e a revoluciona.
Teresa entregou seu manuscrito a Madre Inês a 20 de janeiro
de 1896; dois meses depois, novas eleições na comunidade, após três anos de
priorado de Madre Inês e a eleita foi Madre M. G. M. Inês não dissera
absolutamente nada a M. Maria de G. acerca do que pedira a Teresa; não lhe
falou no assunto quando Madre M. G. tornou a ser priora, a não ser na última
hora, quatro meses antes da morte de Teresa, dizendo-lhe: “A Senhora não vai
poder aproveitar muita coisa que a ajude a escrever a circular dela, após a
morte”. (Quando uma carmelita morre, compõe-se uma breve biografia que se envia
a todos os Carmelos). Madre Inês acreditou que, neste manuscrito, “quase não há
nada a respeito da vida religiosa”. Difícil seria enganar-se mais graciosamente
no discernimento espiritual (Teresa de Lisieux, p58).
A
narrativa que faz Teresa a partir de sua experiência é de uma simplicidade
extraordinária, mas sempre com muita atenção para não deixar escapar nada que
seja interessante a seu relato. A mensagem que Teresa quer transmitir fala além
das circunstâncias da vida presa a um Convento.
3.2 A Culminância da vida Espiritual de Teresa
Sua
vida espiritual começa com o natal de 1886, e culmina no dia 9 de abril de
1895. O caminho que Teresa fez para alcançar essa dimensão espiritual tão forte
não foi fácil, ela passa por diversas provações. Quando atinge uma experiência
bem elevada da sua espiritualidade ela, escreve em forma de poesia, a parir do
Evangelho de João. “Não vejo mais sinal dos meus pecados, o ardor divino a
todos apagou”. Teresa passa a dá sentido próprio ao amor. Para ela viver só tem
importância se for a partir de uma perspectiva de amor, verdadeiramente amor.
Teresa
encontra no Carmelo uma prática bem rotineira das demais irmãs, viver o oferecimento
de si mesma para reparar os pecados. A mortificação seria a via pela qual Deus
iria manifestar sua misericórdia. É nas piores doenças e sofrimentos que serão
alcançados o perdão dos pecados.
Teresa
não sente nem um pouco de simpatia por essa realidade. Esse não é o caminho que
nos leva a Deus, diz ela: “Eu pensava nas almas que se oferecem como vitimas a
justiça de Deus a fim de desviar e atrair sobre si os castigos reservados aos
culpados, este oferecimento me parecia grande e generoso, mas eu estava longe de
senti-me inclinada a fazê-lo’(idem, P.59).
O
holocausto que satisfaz na presença de Deus é a doação de si mesmo, pelo o amor
que vai ao encontro com o seu amor maior. O fogo da Santíssima Trindade devora
os pecados a partir do amor com que nos amor primeiro. O essencial é voltar-se
para Deus não com a intenção de queimar nossos pecados com o nosso próprio
fogo, mas com o fogo do Espírito. “Será que só existe a vossa justiça para
acolher almas que se imola como vítimas? O vosso amor misericordioso não as precisaria
também? ’’
A
vida humana precisa de orações e abertura ao amor que, é a justiça de Deus.
Teresa não tem abertura para tal espiritualidade, o sacrifício, a mortificação
de si mesmo é a porta ao amor misericordioso de Deus. A doação de Deus foi e é
por amor de si próprio.
Esse
amor de Deus é universalmente revelado na comunhão trinitária. Teresa quer e
deseja receber de Deus o seu ser. “Eu desejo ser santa, mas sinto minha
importância e vos peço, ó me Deus, que vós mesmos sejais a minha santidade’’.
Esse
modelo de espiritualidade de Teresa quebra o modelo antigo que por muito tempo
fora imposto para orientar a vida espiritual dos Carmelos. Não era raro
encontrar grandes e virtuosas almas de vôos de águias que alcançava o “infinito”,
contudo pequenas outras que também sortia efeitos grandiosos, aparentemente sem
muita capacidade.
... O cume que Tereza alcançou a 09 de Junho de 1895, ela
percebe perfeitamente que toda a gente também pode galgá-lo; distardes, ela põe
cômbro às “classes” que tinham sido estabelecidas na espiritualidade: um só
povo, o povo dos amados por Deus (idem, p. 63).
A Madre Maria de
Gonzaga não entendeu muito bem os essas colocações de Teresinha, deixando
passar despercebidamente em toda a comunidade do Carmelo de Lisieux.
3.3 Teresa e a pequena via
Teresa se entrega totalmente ao amor e, agradece a Deus por ter
favorecido a tão pequena alma uma grandíssima alegria, de em tudo ver somente o
amor presente. Sua preocupação não está em garantir um tesouro tão precioso
para depender dele aqui na terra, mas trabalhar unicamente para que no céu
possa ter o privilegio de amá-lo eternamente.
Teresa não se achava grande diante do grande mistério do amor
que é Jesus, mas como águia pequena confiava, sobretudo que o amor a conduziria
ao céu da felicidade completa. Teresa às vezes se fazia de pássaros para voar
pelo céu do pensamento em busca da compreensão do mistério do amor, e dizia:
Jesus
sou pequena demais para fazer grandes coisas....e minha loucura pessoal é
esperar que teu amor me aceite como vitima... Minha loucura consiste em
suplicar as águias minhas irmãs, que consigam para mim o favor de voar para o
sol do amor com as próprias assas a águia divina... (Hist. de uma alma, 264)
.
O sacrifício
que ela faz para alcançar a perfeição no amor é o martírio de si mesma através
do amor próprio de Deus que a impulsiona no querer fortemente amar ao
amado. Para Teresa consumir-se
inteiramente é trasbordar sua alma de amor. Diz Teresa: “eu quero, ò meu bem
amado renovar-vos este oferecimento em cada batida do meu coração, o número
infinito das vezes até que, tendo-se desvanecido as sombras, eu possa
reperti-vos meu amor num eterno face a face” (Teresa de Lisieux, p. 79).
Conclusão
Tendo
realizado esta pequena pesquisa, porém, fiel a sua fonte é importante dizer que
nunca se esgota o poço do qual foi estudado para tal fim. Aqui está o novo
jeito de sondar e compreender a vida de quem pouco-a-pouco deixou ser tomada
por aquele que dia-a-dia chama-nos a sermos anunciadores dos mistérios
revelados em Cristo – Jesus. Não resta dúvida que Santa Teresinha fez de sua
vida uma constante doação ao amor, necessidade particular do ser humano.
“Não
pensais que nado em consolações, oh! Não! Meu consolo é não ter consolação na
terra. Sem mostrar-se, sem se fazer ouvir, Jesus ensina-me em segredo: ás
vezes, por meio dos livros, pois não entendo o que leio às vezes, porém uma
palavra como esta que destaquei depois de ter ficado em oração vem consolar-me:
Eis o mestre que dou, ensinar-te-á o que deves fazer. Quero levar-te a ler no
livro da vida no qual está a ciência do Amor. A ciência do amor, oh!, sim! Esta
palavra soa doce ao ouvido da minha alma, só desejo essa ciência. Tendo dado
por ela todas as minhas riquezas, calculo como a esposa dos cânticos
sagrados,nada ter dado... entendo tão bem que só o amor possa nos tornar agradáveis
a Deus, que fiz dele o único objeto dos meus desejos”( Devocionário de Santa
Teresinha,p.15)
O
dever de ter alcançado uma maturidade intelectual e espiritual no campo da vida
de Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face, me inspira a corresponder
sempre à práxis fundamentada no alicerce do amor.
Portanto,
mais que ler pesquisar a vida de tão grande alma, fica o compromisso de fazer
autentico e verdadeiro testemunha de vida. A fé de Santa Teresinha é um convite
a abraçar com toda liberdade cada um ao seu modo a maneira de entregar ao amor.
Cronologia
de Santa Teresinha
02.08.1873
Maria Francisca Teresa Martin nasce em Alenço, França.
28.08.1877
Morte de Zélia Martin, mãe de Teresinha.
15.11.1877
Teresinha e suas irmãs chegam a Lisieux, sob a direção do tio Guérin.
02.10.1882
Entrada de sua irmã Paulina no Carmelo de Lisieux.
13.05.1883
Sorriso da virgem (Pentecostes).
08.05.1884
Primeira Comunhão de Teresinha.
14.06.1884
Crisma.
07.10.1886
Entrada de sua irmã Leônia nas Clarissas de Alenço.
15.10.1886
Entrada de sua irmã Maria no Carmelo de Lisieux.
01.05.1887
O Sr. Martin, pai de Teresinha, adoece.
29.05.1887
Teresinha alcança do pai a licença para entrar no Carmelo, aos 15 anos de
idade.
20.11.1887
Teresinha apresenta ao papa Leão XIII seu pedido de entrada no Carmelo.
28.12.1887
Resposta do bispo Dom Hugonin a priora do Carmelo para a admissão de Teresinha.
09.04.1888
Entrada de Teresinha no Carmelo de Lisieux.
10.01.1889
Tomada de Hábito.
08.09.1890
Profissão religiosa.
24.09.1890
Tomada de véu.
29.07.1894
Morte do Sr. Martin.
14.09.1894
Entrada de sua irmã Celina no Carmelo de Lisieux.
Dezembro
de 1894 Recebe da Madre Inês a ordem de escrever as reminiscências de sua
infância.
02.02.1896
Primeira hemoptise na cela.
Abril
de 1897 Adoece gravemente.
30.09.1897
Morte de Teresinha (19; 20 horas).
07.03.1898
Impressão de História de uma alma.
1899
– 1902 Primeiras graças e curas, pela intercessão de Santa Teresinha.
17.03.1915
Início do processo de canonização.
09.08.1917
Segunda exumação e reconhecimento canônico dos restos mortais de Teresinha.
29.04.1923
Beatificação de Santa Teresinha por Pio XI.
17.05.1925
Canonização de Santa Teresinha.
14.12.1927
É declarada padroeira das missões por Pio XI.
11.07.1937
Inauguração e benção da Basílica de Lisieux.
03.05.1944
É declarada padroeira secundaria da França.
17.10.1997
Santa Teresinha é declarada Doutora da Igreja.
1º de outubro Dia de Santa
Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face.
BIBLIOGRAFIA
Devocionário de Santa
Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face. Crato, CE. 2006.
Santa Teresinha do Menino
Jesus. História de uma Alma. Tradução: Yvone Maria de Campos Teixeira da Silva.
Ed. Loyola, São Paulo, Brasil, 1996.
Teresa de Lisieux. Texto de
Jean-François Six, Ilustrações de Nils Loose. Ed. Loyola.
Teresa do Menino Jesus e da
Sagrada Face. Obras Completas (Textos e Últimas Palavras). Ed. Loyola, São
Paulo, Brasil, dezembro de 1997.
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